Amigos irmãos das Casas Espíritas,
Tenho insistido muitas vezes, gerando sempre uma
polêmica com as lideranças que presidem as mesas de estudos sobre a doutrina
espírita, pois ressalto sempre que não há a possibilidade de colocarmos por
superposição conceitos moralistas em nosso conhecimento e caminho de elevação espiritual sem que
reforcemos de forma relevante a nossa
contra-parte... assim, ressalto a máxima taoista ao dizer: “Quanto mais luz,
mais sombra”... Se assim não fosse, o nosso modelo, Jesus, não teria se colocado em teste por quarenta dias no deserto, e devido a sua altíssima qualidade espiritual, jamais teria sido tentado... logo, independente do quanto agregamos de conhecimentos morais para a nossa pretensa elevação espiritual, desencadeamos uma oposição inconsciente e conflituosa.
Ao encontrar através de pesquisa o livro de Joanna
de Ângelis, “Em
Busca da Verdade”, certifiquei-me que não tinha
estado equivocado todo esse tempo, que os meus seis anos de estudos sobre Psicologia, numa visão Junguiana não foram
sem proveito algum. Resta-me agora, apresentar aos espíritas, que sempre
discutiram com desconfiança as minhas conclusões nos debates, o crescimento
espiritual através do conhecimento da nossa psique, como caminho de individuação.
Vou postar aqui um trecho do livro “Em Busca da Verdade" de
Joanna de Ângelis/ Divaldo Franco.
O objetivo aqui é esclarecer de forma didática o que
foi discutido anteriormente, elucidando pontos e passagens que não foram discernidos satisfatoriamente nas mesas de estudo...
José Alfredo Bião Oberg
Estrutura Bipolar do Ser Humano
O objetivo essencial da existência humana , do ponto de vista psicológico, na visão Junguiana, é facultar ao indivíduo a aquisição da sua totalidade, o estado numinoso, que lhe faculta o perfeito equilíbrio dos polos opostos.
Jung havia estabelecido que o ser humano é possuidor de uma estrutura bipolar , agindo entre esses dois diferentes estados da sua constituição psicológica, qual ocorre com os arquétipos anima e animus.
Toda vez que lhe ocorre uma aspiração , o polo oposto insurge-se , levando –o ao outro lado da questão.
Qualquer comportamento de natureza unilateral logo desencadeia uma reação interna , inconsciente , em total oposição àquele interesse.
Quando o indivíduo se exalta em qualquer forma de personalismo está mascarando a outra natureza que também lhe é inerente.
Se se atribui virtudes relevantes , eles são defluentes de fantasias internas do que gostaria de ser, sem que o haja conseguido.
Um eu opõe-se ao outro eu em intérmina luta interior. Um é consciente , vigilante; o outro é inconsciente , adormecido, que desperta acionado pelo seu oposto. Um se encontra na razão ; o outro, no sentimento ou vice-versa. A não vigilância e não saudável administração desse opositor se apresenta como desvario , que impede o raciocínio lúdico, a presença da razão.
Esse ser duplo é constituído, ora como resultado do conhecimento adquirido, de experiência vivenciada, enquanto o outro é de total desconhecimento , permanecendo oculto sempre à espreita.
O nobre Jung utiliza-se de imagem carregada de lógica moderna , quando esclarece: - o ser humano vive como alguém cuja mão não sabe o que a outra faz , o que induz à recordação do pensamento de Jesus, quando se refere à excelsa ação da caridade: dai com a mão direita , sem que a esquerda o saiba.
Conhecia Jesus as duas polaridades psicológicas do ser humano e , por isso, incitava-o a amar tão profundamente que o seu gesto de afeição sublime e consciente estivesse em plena concordância com os seus arquivos inconscientes.
Stevenson, o inspirado poeta inglês , bem traduziu esses dois polos na sua obra genial “o médico e o monstro” , quando o Dr. Jekil era vítima do Sr. Hide que coabitava com ele no seu mundo interior , expressando toda a inferioridade que o médico buscava superar no seu ministério sacerdotal.
Na tradição religiosa , expressam-se como o bem e o mal, ou o anjo e o demônio , continuando na feição sociológica em conceituação do certo e do errado, da treva e da luz. do belo e do feio.
Essa dicotomia psicológica permanece no ser humano em desenvolvimento emocional e espiritual.
O esforço terapêutico a desenvolver , deve ser todo voltado para a integração do outro polo, o oposto , naquele que está consciente e é relevante produtivo, saudável, caminho seguro para a completude.
O esforço consciente do indivíduo para auto-penetrar-se, autoconhecer-se , como resultado das tensões dos polos ativados pelo interesse da integração , induz o indivíduo a um comportamento gentil, afável , compreensível das dificuldades e limitações do seu próximo.
Enquanto , porém, permanece essa dissociação , essa fragmentação, esse desconhecimento da consciência , invariavelmente se tomba na cisão da personalidade, da qual irrompem os transtornos neuróticos que atormentam , aumentando a distância entre os atos conscientes e inconscientes.
Jung sugere os símbolos como representação dos conflitos que se estabelecem nas oposições dos mesmos, encarregados de os unir e formar uma realidade , como se observa na cruz , cujos braços tem o seu ponto de segurança no centro em que se encontra a haste vertical com a horizontal, representando a segurança , a unidade daqueles contrários...
Nesse sentido , o emérito mestre suíço recorre ao comportamento do cristão na sua rendição à Divindade, sem esfacelar-se nela , mas tornando-se um eleito, capaz de conduzir o próprio fardo a própria cruz.
Pessoas inexperientes quando se dão conta dos opostos no seu mundo interior , afligem-se desnecessariamente , formulando conceitos indevidos e punitivos , como se as manifestações do inconsciente signifiquem inferioridade , promiscuidade , dando origem a culpas injustificáveis pelo fato de existirem.
Supõem, precipitadamente, que podem forçar a mudança , tornando-se puras , embora os conflitos , culminando em descobrimentos dolorosos de existências vazias.
Esses conflitos não devem ser combatidos como inimigos num campo de batalha , mas atendidos, orientados, esclarecidos, libertando-se deles pela sua conscientização , de forma que a autoconsciência experimente bem-estar pela conquista realizada interiormente.
É comum a ocorrência de pensamentos infelizes no momento da oração , da meditação, o que não é habitual noutras ocasiões gerando inquietação e mal-estar.
Ocorre que, estando arquivados no inconsciente , quando esse é ativado pelo polo edificante, logo o outro descerra a sua cortina e libera o adversário.
A atitude a tomar com tranquilidade consiste em permanecer não reativo, insistindo no propósito ora em vivência até a unificação dos oponentes.
A fragmentação leva ao desfalecimento, à perda do entusiasmo.
Um eu em luta contra o outro eu deteriora o sentimento ou aturde a razão.
Joanna de Ângelis/Divaldo Franco
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