Pequena localidade na região serrana do município foi habitada por escravos refugiados, antes da colonização Suíça
Depois da cidade de Casimiro de Abreu ter parte da história de sua colonização registrada em um curta-metragem, financiado pela Fundação Cultural, mais um período histórico do município e da resistência escrava no Rio de Janeiro se perpetuam, dessa vez em uma dissertação de mestrado da Universidade Federal Fluminense. “Conflitos de terra e Quilombos na Colonização do Rio de Janeiro” é um trabalho de pesquisa de 10 anos, somando a graduação e pós-graduação da historiadora Renata Azevedo Lima, que analisa como objeto principal a localidade de nome “Quilombo”, na serra casimirense.
Reconhecida pela Banca Examinadora na UFF como de relevância social e acadêmica, a dissertação de mestrado, segundo a historiadora Renata, “é um livro do documentário”, produzido por ela para pesquisar os conflitos pela posse de terras na época da colonização Suíça e, sobretudo, a origem histórica do nome Quilombo. Há dezenas de anos, curiosamente, vivem na região principalmente descendentes de colonos suíços, que quando se instalaram na década de 20, afirmaram que lá já havia quilombos há pelo menos 10 anos, e que os destruíram para se apossarem das terras.
Na dissertação, a historiadora Renata documenta que a localidade Quilombo, em Casimiro de Abreu, foi refúgio de escravos, denominados quilombolas. A luta pela liberdade, contra a escravidão, levou também à formação de quilombos. E um dos redutos especiais escolhidos pelos quilombolas para viverem em liberdade foi a Serra do Mar, para onde a colonização portuguesa ainda não tinha avançado até o início dos anos de 1800. Esta serra, hoje tombada pelo Instituto Estadual do Patrimônio Cultural – Inepac e preservada por legislações de proteção do município casimirense, é um dos maciços mais altos do Brasil e se estende como uma cadeia montanhosa do Rio de Janeiro ao norte de Santa Catarina.
Características visíveis até hoje denotam que a localidade era realmente um quilombo: o difícil acesso, a subida íngreme (que até pouco tempo só podia ser feita com veículo tracionado), a altitude aproximada de 750 metros (o que permite uma ampla visão de toda a área) e vestígios de uma agricultura bastante antiga.
Durante a pesquisa na Biblioteca Nacional, no Pró-Memória de Nova Friburgo e por meio da aquisição de alguns outros materiais sobre a colonização, tais como manuscritos recolhidos no Brasil e vindos da Suíça, notícias de jornal, censos populacionais, mapas antigos e contemporâneos, fotografias e até mesmo telas da região pintadas por Debret e Rugendas, Renata Lima encontrou provas reais de que a localidade, de fato, era um Quilombo.
Entre os documentos, a historiadora descobriu matérias no Diário do Rio de Janeiro, um jornal de quase 200 anos, tratando de pelo menos três quilombos localizados em Macaé e na região serrana.
Renata encontrou também um mapa da década de 1990 que se remete à proposta de criação de um quinto distrito do município de Casimiro de Abreu, “Nova Suíça”, mas que foi vetada pelo Poder Legislativo na época.
“Foi nesse momento que surgiu a monografia, transformada em curta-metragem documentário financiado pela Fundação Cultural Casimiro de Abreu, e, por último, a dissertação de mestrado, que pretendo transformar em livro e em tese de doutorado”, conta a historiadora.
Quem consolida toda a pesquisa de Renata Lima é Alci da Silva, mais conhecido como “seu Cici”, remanescente de quilombola. Com aproximadamente 93 anos, é membro da última família de negros que viveu na localidade serrana casimirense, mas que foi expulsa por descendentes de colonizadores suíços, há aproximadamente 50 anos.
Para o presidente da Fundação Cultural Casimiro de Abreu, Gustavo Marchiori, toda a pesquisa da historiadora Renata Lima é de suma importância para a identidade e memória do município. “Ficamos muito satisfeitos em poder fomentar, ainda que em parte, o registro de um importante período histórico de Casimiro de Abreu. É compromisso de nossa gestão contribuir para que a memória de nosso município seja preservada. Por isso sempre iremos apoiar, da maneira que for possível, iniciativas tão significativas quanto as da historiadora Renata”, disse Gustavo.
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