Revelar as partes que aprendemos a reprimir é a chave para o entendimento de
como desfrutarmos da liberdade em algumas áreas da visa e nos comportarmos como
robôs em outras. É o medo que nos convence a usar uma das infinitas máscaras para
nos esconder e construir uma personalidade, um figurino, por assim dizer, para ocultar
Trabalhamos incansavelmente para criar uma fachada, para que ninguém descubra
nossos pensamentos sombrios, desejos, impulsos e histórico pessoal. Foi a sombra
do passado que nos levou a construir a face (máscara) que mostramos ao mundo.
Seremos alguém que gosta de agradar ás pessoas, ou buscaremos alívio do mundo
ficando isolado, distantes e sozinhos?
Trabalharemos incessantemente para sermos vistos como acima da média, ou
ficaremos contentes deitados diante da TV ou passando horas na internet procurando
Nossa personalidade não foi criada por acidente, foi criada de modo a camuflar as
partes que julgamos mais indesejáveis e a compensar o que consideramos nossas
falhas mais profundas. Esse Self falso está incumbido de uma única missão: esconder
todas as partes indesejadas e inaceitáveis de nós mesmos.
Se fomos magoados por pais emocionalmente imprevisíveis, talvez tenhamos que
trabalhar muito para transmitir a imagem de uma pessoa calma e equilibrada. Se
tivemos dificuldade de aprendizado enquanto crescíamos, talvez criemos uma
personalidade terna, excessivamente amorosa, para que os outros não percebam a
deficiência que acreditamos ter.
Se nos envergonhamos de ser filho adotivo, talvez nos tornemos trabalhadores
altamente motivados, que sempre se vestem impecavelmente e são bem articulados.
A imagem que criamos é elaborada pelas partes feridas, confusas ou repletas de dor.
Embora isso possa enganar os outros, e até nós mesmos, por um tempo, acabaremos
sendo confrontados pelos ferimentos que essa máscara destinava esconder. Como
uma forma de assegurar que nosso self falho e imperfeito não seja descoberto ou
exposto, sabiamente começamos a desenvolver características opostas àquelas que
Trabalhamos duro para compensar as partes que julgamos inaceitáveis, torcendo
para ludibriar os outros e nos livrar dos sentimentos ruins que foram associados a
eles. Se nos sentimos permeados pela insegurança, podemos ter desenvolvido uma
personalidade arrogante, sabichona, para convencer os outros de que temos uma
imensa confiança. Se nos sentimos fracassados, talvez nos tenhamos cercado de
pessoas que fizeram grandes realizações, ou exagerado no alcance dos próprios
esforços para parecer mais bem-sucedidos do que realmente somos. Se nos sentimos
impotentes, talvez tenhamos escolhido uma carreira ou parceiro que nos permita
Nossa persona nos convence de que não há nada que desconheçamos a nosso
respeito, de que somos, de fato, a pessoa que vemos no espelho e acreditamos ser.
Mas a questão é que, uma vez que compramos a história de “esse é quem sou”,
fechamos a porta para qualquer outra possibilidade e negamos a nós mesmos tudo
o que poderíamos ser. Perdemos a habilidade de escolher porque não conseguimos
fazer nada fora do âmbito da personalidade que estamos encenando. A persona
previsível que construímos agora está no controle. Tornamo-nos cego ás imensas
possibilidades de nossa vida. Somente quando paramos de fingir ser o que não
somos, quando já não sentirmos a necessidade de nos esconder ou compensar
por nossa fraqueza ou nossos talentos, conheceremos a liberdade de expressar o
autêntico self, tendo habilidade para escolher com base na vida que verdadeiramente
desejamos viver. Quando rompemos esse transe e já não nos preocupamos se somos
adequados, nem tememos o que as pessoas pensam de nós, podemos nos abrir e
aproveitar as oportunidades que poderiam passar despercebidas quando estamos
encurralados em nossa história, ou por trás de nossa máscara.
Somos levados ao ponto de exaustão pelo ideal de ego, para ser diferente do
que somos. Lutamos para ter mais força, mais segurança. Sem perceber, nos
posicionamos para provar que somos mais, melhores ou diferentes que o restante,
ou tentamos ficar invisíveis para nos adequar sem chamar a atenção. Esforçamo-
nos para criar exatamente a persona que acreditamos nos trará a aprovação e o
relacionamento que desesperadamente precisamos ou, de modo alternativo, que
nos dê uma desculpa para não viver na íntegra uma vida que amamos. Então,
começamos a agir de um jeito, consciente ou inconscientemente, que nos leva a
outros pensamentos, sentimentos e impressões que, acreditamos, nos trarão amor,
respeito ou pena, até o dia em que a casa cai.
Amanda estava profundamente envergonhada por não ter se formado na faculdade,
e mortificada porque a maioria dos parentes, pelo lado da família da mãe, andava na
contramão e não havia investido em educação. Ela trabalhou com afinco para criar
uma persona que escondesse seu constrangimento e lhe desse uma boa aparência
diante daqueles que queria impressionar. E encontrou um nicho em um campo de
especialização em que era considerada inteligente, prestativa e indispensável, porém,
por mais que lesse e contribuísse em seu trabalho, Amanda terminava quase todos
os dias com uma sensação de “ser menos”. Na tentativa de resolver sua dor, decidiu
voltar á escola, esperando que a obtenção de um diploma a transformasse, de uma
garota sem estudo, moradora de um parque de trailers, em uma mulher sofisticada,
Certa noite, ela entrou na aula de psicologia devidamente trajada com sua persona
profissional. Sentia-se orgulhosa, pois já havia criado uma reputação de ser a garota
inteligente da turma. Quando o professor detalhou o trabalho para a semana, Amanda
começou a murchar, conforme a sombra repleta de vergonha se apoderava dela.
Ela podia sentir o corpo inteiro se retraindo ao ver que o projeto era criar uma árvore
genealógica bem detalhada, demonstrando o histórico educacional e as profissões
de todos os membros da família. Conforme começou a trabalhar no exercício, ao
notar que todos os membros da família viciados em droga, financeiramente instáveis
e sem formação, foi confrontada pela dor e pelo constrangimento do histórico
familiar. A sensação esmagadora de não ser boa o suficiente subitamente pareceu
grandiosa demais para continuar escondida atrás de qualquer persona. Adiante,
naquela semana, quando leu o relatório e olhou com mais compreensão para a árvore
genealógica, em vez de se sentir orgulhosa do trabalho que fez, sentiu vergonha.
Depois de alguns anos tentando fugir da sombra, foi necessária apenas uma tarefa
para que a persona de Amanda fosse escancarada.
Assim como Amanda, alguns de nós sabíamos que, mesmo com pouca idade,
tentávamos ser alguém que não éramos. Em vez de nós mesmos, queríamos ser
como alguém em quem nos espelhávamos, então, inconscientemente, assumimos a
fachada de outra pessoa, sem sequer perceber que aquilo não era um self autêntico.
Mas, de qualquer maneira, em nossa busca por liberdade, segurança e autenticidade,
é imperativo reconhecer que estamos vestindo a versão de uma máscara que
colocamos há vinte, trinta ou quarenta anos. E agora nosso self autêntico, que
está gritando para ter nossa atenção, está profundamente escondido atrás de uma
máscara, e o falso self disfarçando nossa verdadeira natureza.
Imagine isto. Quando era uma criança pequena, você recebeu um presente, uma
moeda mágica, talvez de sua avó. Desejando mantê-la em segurança, você a
escondeu para que ninguém pudesse encontra-la. Depois de todas essas décadas,
você seria capaz de lembrar o local onde escondeu a moeda? Sequer lembraria de tê-
la escondida. O mesmo aconteceu com seu self autêntico. Você o manteve escondido
por tanto tempo que esqueceu a existência dessa sua parte. A natureza da fachada
que escolhemos, varia com base em nosso histórico, pais, arredores onde vivemos e
no que era considerado bom ou mau comportamento. No entanto, as máscaras que
são comumente vistas na sociedade atual não são diferentes daquelas de cem anos
atrás. Hoje há versões atualizadas de sedutores, encantadores, bajuladores, eternos
otimistas, descolados, mártires, boas garotas, caras bacanas, durões, abusivos,
intimidadores, ardilosos, intelectuais, salvadores, depressivos, piadistas, solitários,
vítimas e daqueles acima do padrão. São expressões repetitivas, arquétipos do mundo
contemporâneo. O problema em viver dentro dessas máscaras é o que eventualmente
nos faz perder de vista quem realmente somos e as possibilidades para nossa vida.
Ao ignorar a escuridão, inconscientemente extinguimos nosso poder autêntico, nossa
criatividade e nossos sonhos.
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