Pular para o conteúdo principal

Boulos: a arriscada aposta de Sérgio Moro

  
GUILHERME BOULOS

 20/10/2016

CATEGORIAS: BRASILDESTAQUES
 
 
 
 
 
 
 
161020-cunha
Com prisão de Eduardo Cunha, juiz busca aparentar imparcialidade e justificar novos atos arbitrários. Mas será seguro brincar com um homem-bomba?
Por Guilherme Boulos
Chegou o dia que o Brasil tanto esperava e que Brasília tanto temia: Eduardo Cunha está preso. Tardiamente, é verdade. Contra Cunha, ao menos desde o ano passado, pesam muito mais do que convicções. Há provas contundentes, como os extratos de contas na Suíça associados à corrupção na Petrobras.
Que, a esta altura, sua prisão seja “preventiva” chega a soar irônico, após ele ter chantageado uma presidente aos olhos do país, ter conduzido o processo de impeachment que a derrubou e feito ameaças a torto e a direito. O ônus deste atraso cabe a Teori Zavascki. O ministro do Supremo demorou mais de quatro meses para afastar Cunha após o pedido do MPF, feito ainda com Dilma no governo, e negou seu pedido de prisão em junho último.
TEXTO-MEIO
Cabe agora entender os impactos desta prisão. Para o governo Temer e para os próximos passos da Operação Lava Jato.
De um lado, uma eventual delação de Eduardo Cunha pode ter efeito explosivo para o PMDB e o governo. Ele já havia apontado para Moreira Franco, homem forte da guarda palaciana, insinuando que teria provas de seu envolvimento em esquema de propina no financiamento das obras do Porto Maravilha, no Rio de Janeiro. Mas isso seria apenas o aperitivo.
É fato corrente nos bastidores que Cunha e Temer teriam uma parceria na gestão do porto de Santos, ligada ao grupo Libra – principal doador de Temer e favorecido por Cunha com uma emenda na MP dos Portos. O atual presidente chegou a ser alvo de dois inquéritos relacionados ao recebimento de propinas no porto, em 2002 e 2006, ambos arquivados. Suspeita-se que Cunha tenha gravações de conversas com ele sobre o assunto.
Se Cunha resolver falar e tiver condições de apresentar provas – e, é claro, se os procuradores da Lava Jato aceitarem sua delação – o governo Temer poderá ter seus dias contados. Neste caso, ironia da história, Temer seria derrubado pelas mesmas mãos que o colocaram no poder. Sem falar no Congresso, sobre o qual supõe-se que uma delação do ex-deputado tenha efeitos devastadores.
Mas, de outro lado, a prisão de Cunha pode ter ainda um impacto diferente, relacionado à ofensiva da Lava Jato contra o ex-presidente Lula. A obsessão de Sergio Moro e da chamada “força tarefa” em prender Lula já se tornou algo notório. Foram com muita sede ao pote, tanto na condução coercitiva em março, quanto na desastrada denúncia do power point.
Esses excessos reforçaram a percepção de seletividade e perseguição da Lava Jato contra Lula, principalmente ao considerar que a enorme maioria dos presos e indiciados do núcleo político são do PT. A prisão de Cunha neste momento pode ser entendida como uma preparação da opinião pública para uma eventual prisão de Lula. Neste caso, Moro estaria defendendo-se preventivamente da acusação de seletividade.
Nas últimas semanas, uma enxurrada de novas denúncias da Polícia Federal e do Ministério Público contra Lula – com base probatória que beira o ridículo – alimentaram boatos de uma prisão iminente.
Além disso, os que achavam que Lula era já um “cachorro morto” tiveram uma surpresa com a divulgação nesta terça (18) de uma pesquisa do Instituto Vox Populi, curiosamente pouco repercutida na grande imprensa. Mesmo em meio a um prolongado linchamento público, Lula aprece com 34% das intenções de voto para 2018, mais que o dobro de Aécio Neves, com 15%.
Por isso, é razoável supor que aqueles que têm o interesse de destruir a figura do ex-presidente precisem ir além. No caso de Sergio Moro, as iniciativas anteriores devem ter deixado a lição de que é preciso ter mais cuidado, calibrar os tempos e a narrativa. Nesse sentido, a prisão de Eduardo Cunha – necessária e tardia – pode ser convenientemente utilizada para dourar a pílula de uma arbitrariedade contra Lula. Afinal, passaria à sociedade a mensagem de que a Lava Jato não é seletiva, ocultando que dos tucanos citados permaneceram ilesos, bem como a cúpula do PMDB.
Os dados foram lançados. A prisão de Cunha foi uma jogada ousada de Moro. Resta saber como sua República de Curitiba conduzirá os próximos lances.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Um exemplo

Bom dia meu amigo, tudo bem? Sou Mateus Macabu, Asessor do Vereador Wellington Santos, quero passar pra você uma breve prestação de contas do Mandato do Vereador. O vereador Wellington Santos representa 24,37% das matérias em debate na Câmara Municipal de Casimiro de Abreu. Temos 08 Leis em execução no Município, como a Lei n. 2248/2022 e a Lei 2249/2022, a primeira que garantiu acesso da rede de Wi-Fi para todos os usuários do nosso Hospital, a segunda garante a isenção do IPTU a templos religiosos em forma de comodato ou aluguel. Dentre as 179 indicações na Câmara Municipal, temos dezenas executadas, como a Indicação n. 946/2021 que criou o grupamento da Romu em Casimiro de Abreu, trazendo mais segurança para nossa população, a Indicação n. 474/2023 que criou o Comitê de Segurança Escolar, com vários segmentos da nossa Sociedade, em um momento que vivíamos de grande apreensão nas Escolas. Somos o único Vereador que possui Gabinete Avançados para atender a população, sendo 01 em C

O mito da caverna de Platão se aplica à hipnose midiática atual e a sua influência manipuladora nas massas carentes de uma temática própria.

O mito da caverna, de Platão O mito da caverna conta que alguns prisioneiros vivem, desde o nascimento, acorrentados numa caverna, passando todo o tempo a olhar para a parede do fundo da caverna, que é iluminada pela luz duma fogueira. Nesta parede aparecem as sombras de estátuas de pessoas, de animais, de plantas e de objetos, mostrando cenas e situações do dia-a-dia. Os prisioneiros dão nomes a essas sombras e ficam analisando e julgando as situações. Se um desses prisioneiros se desvencilhasse das correntes para explorar a caverna por dentro e o mundo por fora, conheceria a realidade e perceberia que passou a vida analisando e julgando apenas sombras, imagens projetadas por estátuas. Quando saísse da caverna e entrasse em contato com o mundo real, se encantaria com os seres de verdade, com a natureza real. Ao voltar para a caverna, ansioso pra passar o seu conhecimento adquirido fora da caverna para os outros prisioneiros, seria ridicularizado. Os prisioneiros que não conh

Nathaniel Townsley Live at Triple