21 de março de 2017
O objetivo da
Lava-Jato era sequestrar Eduardo Guimarães para que ele revelasse a fonte que
lhe vazou informações em 2016? Ou o objetivo era sequestrar o celular do
Eduardo e o computador do Eduardo? Os
camisas negras poderão usar seus prepostos na internet para vazar diálogos,
mensagens ou qualquer coisa que sirva pra intimidar blogueiros e lideranças
críticas à Lava-Jato (e não faltam antagonistas e porra loucas de extrema
direita pra cumprir esse papel).
por Rodrigo Vianna
O juiz das
camisas negras cometeu mais uma arbitrariedade. Não é novidade. Um juiz que
vaza ilegalmente conversa sigilosa de presidente da República (como Sérgio Moro
fez com Dilma); um juiz que oferece à mídia conversas pessoais da ex-primeira
dama Marisa Letícia; um juiz que vai às redes sociais pedir apoio popular, como
se fosse um justiceiro de filme de bang-bang; um juiz que confraterniza com a
direção do PSDB, entre conversas de pé de ouvido e risos cínicos… Esse ser
ainda pode ser chamado de juiz?
Hoje, Sérgio
Moro deu mais um passo em sua carreira de arbitrariedades. Mandou a Polícia
Federal bater à porta do blogueiro Eduardo Guimarães, um dos mais ácidos
críticos da Lava-Jato. E determinou que se apreendessem todos equipamentos
(laptop, computador, celulares) do blogueiro que, há 12 anos, cumpre papel
jornalístico divulgando informações relevantes e expressando opinião no Blog da
Cidadania.
Percebam a
gravidade do ato praticado neste dia 21 de março de 2017. Ninguém mais está a
salvo das arbitrariedades da vara de Curitiba. Depois de atentar contra a
Democracia e o voto, depois de enterrar segmentos importantes da economia nacional,
Moro e a Lava-Jato investem agora contra a liberdade de informação.
Isso só já
seria grave. Mas pretendo mostrar que a ação tresloucada do juiz pode ter outro
objetivo, que indica o caminho sem volta adotado pela Lava-Jato nesta
terça-feira, 21 de março.
Em fevereiro
de 2016, Eduardo Guimarães publicou em primeira mão a informação de que a
Lava-Jato se preparava para conduzir Lula coercitivamente e invadir o Instituto
Lula. Alguns dias depois, em 4 de março de 2016, os fatos se confirmaram. Isso
enfureceu os procuradores da Lava-Jato e o próprio Moro. O jornal de direita “O
Globo” fez reportagens mostrando que Guimarães deveria ser alvo de
investigação. E assim se fez.
Oficialmente,
o juiz das camisas negras determinou agora condução coercitiva de Eduardo
Guimarães para que ele revelasse, na qualidade de “testemunha”, quem foi a
fonte que lhe vazou a informação sobre a operação. Trata-se de um atentado à
liberdade de informação. A Constituição estabelece o princípio do “sigilo da
fonte”.
Reparem: a Globo
e outros meios tradicionais vazam tudo o que querem da Lava-Jato.
Jornalistas
jamais foram incomodados por isso. E é bom que assim seja, apesar do caráter
unilateral e abjeto dos vazamentos globais. Mas a regra do sigilo da fonte não
vale quando o jornalista que faz o vazamento é o dono de um blog com posições
políticas claramente contrárias à Globo e a Moro.
Moro
argumenta que Eduardo não é jornalista, por isso não estaria coberto por tal
garantia. Aí está a malandragem. O provável é que Moro saia derrotado nesse
debate jurídico, já que o STF já deu decisão clara sobre o fato.
Por que
então conduzir Eduardo?
Pra mim, não
resta dúvida: todo o show teve dupla função…
Primeiro,
intimidar quem ouse criticar a Lava-Jato (nesse ponto, acho que o tiro sai pela
culatra, e sei de vários jornalistas da chamada grande mídia que se mostram
indignados com o ato ditatorial do juiz de fala mole). Qualquer cidadão
minimamente informado sobre a história sabe que a tendência é a seguinte: com o
poder desmedido que angariou, Moro num primeiro momento vai intimidar os
críticos mais identificados com a esquerda; depois, partirá pra cima de
qualquer um. Não é à toa que jornalistas com posições tão diferentes como
Ricardo Noblat, Kennedy Alencar e André Forastieri já se manifestaram
publicamente contra a ação ilegal.
Em segundo
lugar (e aí está o pulo do gato): o objetivo da Lava-Jato não foi apenas
sequestrar Eduardo Guimarães para que ele revelasse a fonte que lhe vazou
informações em 2016 (até porque o blogueiro saiu da PF, no início da tarde de
terça, com a nítida impressão de que seus interrogadores já sabem quem foi o
vazador)… O objetivo pode ter sido sequestrar o celular do Eduardo, o
computador do Eduardo, e vazar de forma lenta, a conta-gotas, qualquer conversa
reservada, pessoal, que possa ser constrangedora ao Eduardo ou a outros
personagens que cumprem a tarefa de enfrentar Moro e sua tropa de assalto.
Moro já fez
isso com grampos de Lula. Vazou primeiro. A Globo fez a festa. O STF, através
do ministro Teori, aplicou-lhe uma leve reprimenda. Moro então pediu desculpas,
e seguiu adiante. Mas o estrago já estava feito.
Objetivo
agora é idêntico: os camisas negras poderão usar seus prepostos na internet
para vazar diálogos, mensagens ou qualquer coisa que sirva pra intimidar
blogueiros e lideranças críticas à Lava-Jato (e não faltam antagonistas e porra
loucas de extrema direita pra cumprir esse papel).
O celular e
o computador do Eduardo Guimarães serão torturados, até confessar o que a
Lava-Jato quer ouvir. A tortura física de uma prisão indefinida (instrumento
adotado pelo juiz das camisas negras) pode ser tão grave quanto a tortura
psicológica de conversas pessoais tornadas públicas. Dona Marisa que o diga…
Se não
houver contenção organizada ao juiz arbitrário, ele se sentirá livre pra partir
pra cima de qualquer um que ficar à sua frente. Ninguém estará a salvo. Ou a
sociedade contem agora o juiz das camisas negras, ou ele fará jus ao uniforme
que nos lembra os tempos tristes de Mussolini na Itália.
P.S.: o
objetivo deste texto é interpretar o grave momento pelo qual passamos; mas não
poderia deixar de manifestar minha solidariedade pessoal ao Eduardo Guimarães e
à família dele; a forma altiva como Eduardo saiu da PF, depois de passar pela
intimidação judiciária determinada por Moro, mostra a fibra do blogueiro, que é
também um combatente pela Democracia. Se Moro pensou que iria intimidá-lo,
errou feio. Avante, Eduardo!
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