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Arte e artistas – A nova mina de ódios do Terceiro Reich brasileiro


Por Bajonas Teixeira, colunista de política do Cafezinho


A histeria contra a arte e os artistas, promovida por políticos de direita, tem um motivo simples: explorar uma nova mina de ódios. A classe média anti-Lula andava desmotivada. O governo Temer foi para ela uma cilada: salários congelados, reformas aterrorizantes, e oito aumentos da gasolina. A derrocada de Aécio a intimidou mais ainda. Nas ruas, ela deixou de atacar figuras ligadas ao PT. Os xingamentos de “petralha” e “esquerdopata” arrefeceram nas redes. Enfim, a velha fonte de ódios secou. Por isso, a associação de arte e pedofilia foi um achado. Com ela, emergiu da lama um límpido cristal de pura estupidez. A direita volta a urrar, xingar e ameaçar com torturas. E tudo em nome da moral e da família.
Com presteza incomum, o MP, a justiça, a polícia e  a mídia deixaram-se mobilizar e deram voz aos desqualificados vociferantes que, com a boca espumando, gritavam em “defesa da família”. Enfim, uma mina de ouro, ou melhor, de ódios, caiu em mãos do fascismo brasileiro.
A regressão  mental que acompanha as crises, devido ao medo, leva à infantilização em massa que torna aceitável qualquer acusação caluniosa, mesmo a mais infame ou idiota (“Lulinha é o dono da Friboi”). Esses adultos reduzidos à condição infantil estão  prontos a aceitar tudo, se for novo e repulsivo. O Terceiro Reich, após inventar a imagem do ‘judeu pervertido’ decidiu, em 1937, atribuir a ele a criação  de uma arte degenerada. E assim se fez em Munique a exposição que dava um novo nome à arte moderna – Arte degenerada. Entre os (mal)ditos “degenerados” estava um bom número de gênios: Max Ernst, Wassily Kandinsky, Marc Chagall, Lasar Segall, Paul Klee, Otto Dix, etc.
Hoje, todo mundo sabe que degenerados eram os nazis. Mas podemos imaginar o prazer que sentiam ao apontar no outro, no judeu, a degradação  que, em verdade era a deles. Tudo só foi possível porque, naquela época, podiam contar com a cumplicidade do MP, do judiciário, da política e da mídia.
Pois é. E no Brasil hoje, com o atraso de oitenta anos, atacam grotescamente a arte com acusações  de pedofilia, isto é, arte degenerada (entartete Kunst).
E quando entre os acusadores surpreendemos um político apontado no plenário da Câmara Federal assistindo e compartilhando pornografia, temos um índice seguro para avaliar o quilate dos acusadores. Ainda mais quando, como circulou recentemente, no cardápio pornográfico online no país, o tema mais pesquisado é “novinha”. Diz a matéria de O Globo de 28 de maio de 2015:
Enquanto o deputado assistia ao vídeo, outros colegas apareceram para ver do que se tratava. Segundo a reportagem, as imagens mostravam atos obscenos e, por isso, foram borradas. Em cima da mesa, havia um convite para um ato religioso.
As acusações de pedofilia não visam outra coisa que injetar uma dose de perversidade e maldade para gerar novas ondas de ódio e, a partir delas, auferir lucros políticos fáceis. Mas, é claro, nisso tudo há o prazer de rebaixar todas as coisas ao nível do “chão da Câmara”, digamos assim, além de perseguir o que não se compreende (a arte e os artistas), e dar livre expressão a um sadismo intenso.
Rebaixar ainda mais a cena política do país de ponta a ponta (o que parecia  impossível), pilhar qualquer forma decente de julgamento, vandalizar tudo que tenha consistência simbólica e seja difícil de alcançar, enfim, impor a perspectiva de rã, o olhar que emerge do fundo do pântano, é esse o projeto do lúmpen político brasileiro.
Esses homens, adestrados pela pornografia, só podem ver de fato o corpo nu como sexualizado – e sexualizado pornograficamente –, porque essa é a ‘arte’ que consomem diariamente, inclusive durante as sessões da Câmara e no plenário. ‘Arte’ de ‘compreensão’, e satisfação, imediatas. Miséria mental, miséria cultural e, em consequência das aulas que recebem de seus astros pornôs, miséria sexual. Como são miseráveis esses pobres coitados, não?
Foi noticiado por esses dias a campanha publicitária do Musée d’Orsay, lançada em 2015 e retomada recentemente, Tragam seus filhos para ver gente nua (Emmenez vos enfants voir des gens tout nus). Uma tradução mais literal seria “Tragam suas crianças para ver gente toda nua”. Imaginem se nas garras do Terceiro Reich brasileiro caísse o acervo de arte dos museus franceses! Certamente, o estrago deixaria no chinelo a grande queima de livros promovida pelos nazis em maio de 1933.
Bajonas Teixeira de Brito Junior, filósofo e professor.

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