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#NãoMeAjudaLuciano: por menos estereótipos da mulher brasileira



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BRASILEIRALuciano Huck, apresentador da TV Globo conhecido pelos quadros de "caridade", fez um convite desconcertante a mulheres nos seus perfis no Facebook e no Twitter. Ele pede para as mulheres cariocas e solteiras que se inscrevam para conseguir o "seu gringo dos sonhos" que está no Brasil para a Copa do Mundo.
huck
Post na página oficial do Luciano Huck no Facebook, antes de ser tirado do ar
Sim, há muitos gringos interessados nas brasileiras e, sim, também há muitas brasileiras interessadas nos gringos. A festa na Vila Madalena, em São Paulo, mostra isso. Mas também ouvi relatos de amigas que testemunharam lá a violência contra a mulher, com homens cercando brasileiras, puxando braço, obrigando a beijar, xingando e às vezes até agredindo em caso de recusa.
Como jornalista, eu acredito na responsabilidade social dos meios de comunicação de interpretar os fatos e difundir conhecimento, prestando um serviço ao leitor ou telespectador. Há quem diga que o jornalismo "constroi a realidade", dada sua influência na sociedade. Eu mantenho viva minha crença universitária de que é possível fazer do mundo um lugar um pouquinho melhor, mesmo por alguns minutos, com o jornalismo. O programa do Hulk é de entretenimento, não jornalismo, mas é marcado por "responsabilidade social" também.
Só que são poucos os que pensam que desconstruir estereótipos é prestar um serviço, claro. É mais fácil pegar onda no senso comum e ter audiência em cima disso do que lucrar contrariando estereótipos. Bem mais fácil.
O problema é que o estereótipo da brasileira interessada no gringo está ligado a uma realidade bem obscura. Tem a ver com prostituição, sim, e tem a ver com as desigualdades sociais do Brasil. As brasileiras não foram apenas eleitas como as maiores beldades mundiais, elas também figuram em um triste "top 3", das três nacionalidades mais frequentemente alvo de tráfico de pessoas. "Perdemos" apenas para as nigerianas e as chinesas, segundo o primeiro levantamento publicado pela União Europeia sobre o tráfico de seres humanos em todo o continente, este ano. Segundo os dados da UE, mais de 2 mil mulheres estrangeiras são identificadas por ano como vítimas de tráfico, muitas delas trabalhando como escravas modernas.
Muitas vezes o tráfico é realizado através da prostituição, outro "produto de exportação" famoso do Brasil. A prostituição em si não é o problema, visto que não é crime e deveria ser uma profissão regulamentada, mas sim a exploração sexual. Dois terços das vítimas de tráfico para fins de exploração sexual do mundo são mulheres, e a maioria dessas mulheres vêm de classes populares e vão parar na escravidão com a ilusão de que um namorado gringo vai tirá-las da miséria e tratá-las bem como em "Uma linda mulher". O que me lembra de uma frase de um "namorado gringo" citado em uma reportagem da Agência Pública sobre exploração sexual durante a Copa. Ele disse para as autoridades brasileiras ao ser preso: "Eu não tô traficando ninguém. Tenho o documento da mãe da menina. Olha aqui onde ela morava, olha como está a casa dela agora depois que eu ajudei. Onde vocês estavam?" Ou seja, tem tudo a ver com vulnerabilidade socioeconômica e tem tudo a ver, também, com questões de gênero.
A exploração sexual diz respeito sim à objetificação da mulher, do olhar tão disseminado de que a mulher existe para a satisfação do homem, que ela precisa ser bonita para ser "admirada", precisa ser sexualizada para dar prazer ao homem, para citar apenas dois estereótipos que as brasileiras carregam.
Como disse Simone de Beauvoir no volume um do livro "O Segundo Sexo", a mulher "não é senão o que o homem decida que seja". "Para ele, a fêmea é sexo, logo ela o é absolutamente. A mulher determina-se e diferencia-se em relação ao homem e não este em relação a ela; a fêmea é o inessencial perante o essencial. O homem é o Sujeito, o Absoluto; ela é o Outro."
Se está decidido que a brasileira é bonita, sexualizada e interessada em um gringo, assim o é. E haverá mulheres que vão confirmar o estereótipo, mesmo que sejam assediadas em festas de rua, mesmo que se sintam obrigadas a fazer sexo com ares de consensual, mesmo que, no fundo, não se sintam assim tão confortáveis com isso. "O homem que constitui a mulher como um Outro encontrará, nela, profundas cumplicidades. Assim, a mulher não se reivindica como sujeito, porque não possui os meios concretos para tanto, porque sente o laço necessário que a prende ao homem sem reclamar a reciprocidade dele, e porque, muitas vezes, se compraz no seu papel de Outro", já dizia Beauvoir. É simples acreditar que um gringo é a solução dos seus problemas. É fácil crer e propagar estereótipos. Mas é também uma armadilha cruel.

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Tatyana Fazlalizadeh

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11 pessoas estão discutindo este artigo com 14 comentários
Belo texto.

Precisamos apenas ter cuidado para não descriminar aquelas mulheres que, donas de seus corpos e sexualidade, querem simplesmente uma aventura com o "gringo", que nada mais representa do que uma novidade.

Sei que o foco do artigo é outro, mas creio que muitos poderão interpretá-lo de maneira discriminatória e acabar usando seus argumentos deslegitimando o livre exercício da vontade e da sexualidade feminina.
Oi, Natália! Obrigada pelo elogio :) Quanto às discriminações, me permito usar da máxima "sou responsável pelo que digo, não pelo que você interpreta". Se me usarem para deslegitimar a sexualidade feminina, eu vou me pronunciar, pode apostar!
Fico feliz que a voz feminina esteja se fazendo ouvir. Fui educado e graças a Deus, tive pais que jamais me influenciaram sobre o machismo ou feminismo.
Acredito que toda mulher gosta de ser tratada com amor, respeito, carinho e afeto, talvez a máxima " NÃO SE FAZ MAIS HOMENS COMO ANTIGAMENTE" esteja cada dia mais presente.
Quanto ao comércio sexual quando exercida de forma consensual e a mesma seja adulta, não vejo como exploração, uma vez que a mulher conquistou seu espaço. Ela tem o direito de usar seu corpo e usar sua sexualidade como desejar.
Aproveito para parabenizar a todas pelos comentários e a autora pela leveza e pelo bom senso que tratou o assunto.
Obrigada, José :)
Faz tempo que o Luciano Hulk não dá uma dentro na internet... alguém muda a senha do facebook dele por favor? hahahha
Muito bom texto que chama atenção para como a mídia sempre adota o caminho mais fácil e a situação da mulher ainda é muito frágil. Mas tenho que concordar com o primeiro comentário da Natália. Devemos tomar cuidado porque o mundo de hoje não tem só mulheres objetos. A Beauvoir é muito relevante ainda mas a mulher da qual ela fala não é mais a única mulher que existe.

Além disso tem outros dois lados muito importantes. Nem toda mulher brasileira quer ou tem um gringo por essas razões. Elas podem querer uma aventura ou podem ter se apaixonado mesmo. Meu marido é um gringo que se apaixonou por mim e pelo Brasil e nossa cultura e sempre tratou toda mulher com o maior respeito. Os gringos não são todos turistas sexuais.

E eu acho que a gente deve se perguntar da onde vem esse desespero todo para namorar um gringo. O que o homem brasileiro faz que deixa as moças tão focadas em outras nacionalidades? Eu tenho uma lista de exemplos de PARCERIA no meu casamento que até hoje, difícil usar um estereótipo, não tenho muita certeza de que um brasileiro faria.
O assédio ao gringo também vem de um respeito maior que a mulher recebe de homens não adeptos ao turismo sexual que vem de outras culturas.
Entendo seu ponto, Luísa, e eu me policio para não dar margem a más interpretações, mas acho que deixei claro que a mulher tem todo direito de querer e ter um affair com um gringo quando falei, no quarto parágrafo, que existem sim mulheres interessadas nos gringos. Mas achei que seria muito salada de fruta misturar a questão da sexualidade feminina nesse texto. Não faltarão oportunidades de falar sobre o assunto :)
4 PESSOAS NA CONVERSA
Ler conversa 
Ótimo texto Gabriela! Agora com Beauvoir de fundamento, tudo fica mais "concreto". Parabéns! Cada vez melhor!!!
"" a Rede Globo emitiu uma nota . O texto diz que Luciano Huck, assim como toda a equipe de seu programa, "é contra qualquer tipo de violência e sempre apoiou campanhas contra a exploração sexual de mulheres".""

: pessoal sem memória - quando lhes convém ... esqueceram do primeiro programa que este indivíduo teve - chamava " Circulando " , sobre a vida noturna da paulicéia desvairada , na Band , final dos anos 80 , que era patrocinado por uma rede de TELE-SEXO : nos comercias , meninas seminuas , de maioridade duvidosa - gesticulavam entre caras e bocas convidando o espectador para um bate-papo sexual privê ao celular ...

apesar de ir ao ar lá pela meia-noite , o público-avo era o adolescente , com quadros tipo " brincadeiras " durante o programa ...

anos depois surgiram as " Tiazinha " e " Feiticeira " , para provar o que Huck realmente pensa das mulheres , e como as trata ... e como fatura em cima delas ... como se chama isso mesmo ?

é de uma vigarice inacreditável ...
Creio que muitos "gringos" (pessoas) que desejarem fazer uso de sua liberdade sexual devem também respeitar a liberdade sexual dos outros, incluindo a de recusar ter essa liberdade com eles. Eles são livres para desejar uma brasileira, se quiserem. As brasileiras são livres para querer dar ou recusar dar se quiserem. Porém, como bem afirmaste no artigo, existe uma situação de vulnerabilidade socioeconômica, que torna a pretensa liberdade sexual da mulher explorada em um grilhão a mais, forçando-a muitas vezes ao que não deseja. A liberdade de ambos os lados deve ser cultuada? Sim, deve! E o respeito? Mais ainda, e acima da liberdade. Se os "gringos" respeitassem as brasileiras, aceitariam a rejeição de boa, que obviamente há quem deseje eles também. Respeitar é amar não só o outro, mas acima de tudo, amar sua liberdade.
Para Luciano Huck, com carinho!...
engraçado, o comportamento lamentável das brasileiras nesse mundial, literalmente atacando gringo na rua ninguém reclama né ? se cada um faz o que quer igual as mulheres estão falando aos montes por ai então vão tomar conta da vida de vcs e o luciano faz o que ele quer tb ué, ele não está obrigando nenhuma mulher a se cadastrar, e tem mais se a brasileira tem fama de mulher fácil no mundo inteiro não é por causa desse programa e sim pelo comportamento das brasileiras que realmente são as mulheres mais acessíveis do mundo, não estou julgando falando que é certo ou errado, unica coisa que me incomoda é que depois de ver como a mulher brasileira vem tratando os gringos, perderam o direito de reclamar quando não forem bem tratadas pelos homens brasileiros pq elas tratam os brasileiros muito mal, nunca vi mulher literalmente atacando brasileiro, tentando beijar, chamando pra sair num desespero surreal, a coisa estava tão sem noção que a mulher achava que o cara era gringo já chegava tentando beijar ai quando via que era brasileiro virava as costas e ia embora, depois desse mundial meu respeito pelas brasileiras é zero, agora eu sei o pq da fama, nada é por acaso são esses mesmos gringos que as brasileiras estão atacando que nem umas cadelas no cio que vão agora reforçar o estereótipo que vcs já tem.

Considerações Pessoais
J. Alfredo Bião Oberg
Observo as consequências que esse interessante texto trouxe à baila ao enfocar o estado de direito que a emancipação feminina requer e tem direito, porém ressalto também a defesa da liberdade que algumas emancipadas colocam em pauta... Sou a favor dessas, pois sei que pra se chegar a esse estágio de emancipação é necessário caminhar e quebrar a cara sozinho, nada de procurações em nome... Quer viver numa sociedade de igual pra igual, tudo bem, acho que é um grande pulo cultural, só que pra isso, crie as suas filhas como criam seus filhos, - pro mundo!... Achem bonitinho, e falem que elas já estão dando muito, que são umas "pegadoras", coisas comuns quando o assunto baila sobre o comportamento social dos filhinhos homens. Estão de acordo? Muitas dirão: Que horror! Que coisa grosseira... Tem razão, mas "é assim que a banda toca" quando se fala em liberdade individual, seja ela de ordem sexual ou não. Prefiro crescer dentro da liberdade, com todas as dificuldades inerentes à esse processo, do que clamar por um estado policial, onde essa liberdade é reprimida por conta de uma "segurança"paternalista do Estado. Para se crescer e tornar-se um indivíduo dentro dessa sociedade manipulada de forma subliminar pela mídia comprometida, é necessário ter um colhão roxo, o resto, são justificativas...

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