Os convites de Juliette
Participante do BBB e fenômeno das redes sociais, ela
ofereceu algo além de autenticidade. Desconcertante, causou impacto por ser
antítese à competição esperada deste jogo. Em um país em ruínas, sua
popularidade pode ser inspiradora
OutrasPalavras
por Graziela Marcheti
Publicado 05/05/2021 às 16:05 - Atualizado 05/05/2021 às
16:16
Crise Brasileira Archives - Outras Palavras
Imunizantes só chegaram ao Brasil graças à ciência e
instituições públicas, duramente atacadas nos últimos anos. Curvado aos EUA,
governo sabotou negociações para adquiri-los e, agora, país amarga a posição de
pária mundial e epicentro da “covide”.
Se nos últimos três meses, você conseguiu passar ao largo de
qualquer comentário sobre Big Brother Brasil 21, certamente não vai conseguir
passar muito mais tempo sem ouvir falar de Juliette.
Imunizantes só chegaram ao Brasil graças à ciência e
instituições públicas, duramente atacadas nos últimos anos. Curvado aos EUA,
governo sabotou negociações para adquiri-los e, agora, país amarga a posição de
pária mundial e epicentro da covid.
O BBB é um programa de reality que reúne confinadas numa
casa várias pessoas, com perfis e histórias diferentes, e — em meio a muita
propaganda de patrocinadores — impõe dinâmicas em que cada um deve trabalhar
para eliminar seus concorrentes até chegar à final. Porém, eles devem fazer
isso com a única ferramenta que lhes é permitida: o relacionamento. Ainda
assim, por mais que joguem bem ou mal, é o público que exerce, através do voto,
o poder de eliminar ou manter os participantes até que algum deles chegue (Crise
Brasileira) a ser campeã ou campeão.
Imunizantes só chegaram ao Brasil graças à ciência e
instituições públicas, duramente atacadas nos últimos anos. Curvado aos EUA,
governo sabotou negociações para adquiri-los e, agora, país amarga a posição de
pária mundial e epicentro da covid.
Com tantas tragédias incessantes no Brasil de 2021, o
programa serviu para muita gente como uma tentativa de fuga dos assuntos dos
quais não é possível escapar. Se você conseguiu escapar do assunto BBB,
certamente não teve o mesmo sucesso com a pandemia ou com o governo Bolsonaro.
Sim, o BBB é um entretenimento. Mas, como seus participantes são pessoas
brasileiras nossas contemporâneas, foi impossível não gerar ali debate sobre os
assuntos que nos rodeiam. Além disso, quem não gostaria de poder exercer seu
voto para eliminar alguns políticos desse país? Imaginem Bolsonaro sendo
eliminado com 99% dos votos, assim como foi Karol Conká, a grande “vilã” do
programa? Ah… se a vida fosse apenas um programa de TV… Bom, poderia ser também
o show de horror que vimos na tela.
Violências psicológicas, traições rasteiras, intrigas
medíocres… tudo muito estimulado pelas dinâmicas do jogo e esperado, ou quem
sabe, desejado por parte da audiência.
Porém, o BBB finalmente chega ao fim, com escolha massiva do
público pela participante que mais atuou na contramão dessas expectativas.
Juliette entrou no jogo e jogou, mas sua forma de construir relações, respeitá-las
e buscar cuidado e justiça criou um impacto gigante no público, ao mesmo tempo
que uma incompreensão constante entre seus colegas.
Juliette sai campeã com 24 milhões de seguidores no
Instagram. Entrou com cerca de 4 mil. Concordando ou não com essa realidade, é
preciso nos perguntarmos: Por que Juliette? Por que foi escolhida pelo público
desde as primeiras semanas para ser a campeã, frustrando aqueles que esperavam
surpresas e indefinições no jogo? E como a pessoa mais querida do BBB fora da
casa pôde trazer tanto incômodo e suspeitas entre os jogadores?
Com a saída de Gil, a internet ficou em revolta, lamentando
sua ausência na final e defendendo sua participação como a mais legítima para o
programa. E sim, Gil era o participante com o perfil mais adequado para ser o
vencedor. Serviu a todas as expectativas, fazia rir, chorar, contava histórias
emocionantes, foi rasteiro, covarde e muito corajoso. De fato, ele e outros
participantes entraram no jogo para ganhar, estudaram, conspiraram, articularam,
fizeram tudo o que se espera de um participante de um reality competitivo como
é o BBB.
Mas, o que parece é que, em meio a tantos fãs e conhecedores
das dinâmicas do programa, nenhum deles esperava topar com… Juliette.
Impressiona, ao longo de toda edição, seu amplo favoritismo
entre a audiência sem que, até o final do programa, nenhum dos participantes
tenha suspeitado verdadeiramente disso. Juliette foi constantemente subestimada
por todos os participantes do programa. Ela conseguiu, com muito custo, ter
alianças na casa, ser gostada, até respeitada, porém… chega a ser chocante o
quanto foi descredibilizada em suas percepções e apostas de jogo. Juliette
conseguiu, como nenhum outro, enxergar os conflitos da casa e perceber muitas
vezes o quanto se relacionavam com ela mesma. Ganhou até o apelido de Euliette
aqui fora, por achar que os conflitos tinham sempre a ver com ela. E pasmem!
Estava certa. Por grande parte do jogo, ela foi o assunto. Em todas as
conspirações, em almoços, desabafos, Juliette era o tema. Tida como fraca, má
jogadora, possessiva, falsa, egocentrada (Crise Brasileira), e claro, tagarela.
Sendo essa, talvez, a única característica que seja impossível lhe negar.
Imunizantes só chegaram ao Brasil graças à ciência e
instituições públicas, duramente atacadas nos últimos anos. Curvado aos EUA,
governo sabotou negociações para adquiri-los e, agora, país amarga a posição de
pária mundial e epicentro da covid.
Por um lado, tropeçava nos próprios passos – literalmente!
há numerosas cenas de tropeços. Não ganhava prova nenhuma (teve sua redenção na
última prova do líder). Errava palavras, confundia nomes, se atrapalhava diante
das câmeras e ria — muito! — de si mesma. (Crise Brasileira).
Imunizantes só chegaram ao Brasil graças à ciência e
instituições públicas, duramente atacadas nos últimos anos. Curvado aos EUA,
governo sabotou negociações para adquiri-los e, agora, país amarga a posição de
pária mundial e epicentro da covid.
Mas, quando o assunto era gente, Juliette estava lá. Fosse
para oferecer acolhimento (inclusive aos seus adversários, o que lhes causava
mais ódio e desconfiança), fosse para encarar conflitos. Outra coisa gritante
em Juliette é a absurda memória e clareza para argumentar em situações de
divergências. Enquanto todos queriam falar pelas costas seus comentários
maldosos, Juliette chamava cada um para uma conversa franca. Ganhou até um
programa, criado pelo público, “Conversa com o eliminado”, em que falava
longamente com a pessoa que sabíamos que sairia naquele paredão. Palavras de
conforto, de troca, mensagens de força… tudo o que a maioria não gostaria de
ouvir de alguém que, claro, tanto subestimava. Num certo momento do jogo, todos
ali tinham suas duplas, cuja prioridade era colocada de forma bem
infantilizada. Juliette nunca teve dupla. Sobrava nas provas, era a última a
ser escolhida.
Fez parcerias
diversas, conversava com todos, brincava e acolhia, independentemente de jogo e
disputa. E dizia: não preciso ser o primeiro lugar de ninguém, eu quero ter o
meu lugar. Uma (Crise Brasileira) afirmação que é a antítese de um programa
cujo sentido é a competitividade.
Suportou a lógica do
jardim de infância, recheada de bullying, trazendo para o jogo a (Crise Brasileira)
importância do diálogo, mesmo e sobretudo, na divergência. Num reality em que a
conspiração e as intrigas são o fermento do bolo, ela mostrou coragem em não
fugir de conflitos. Interpelava todos, sem medo, tratando assuntos espinhosos
de maneira clara e delicada. O que é, sim, algo bastante raro.
Imunizantes só chegaram ao Brasil graças à ciência e
instituições públicas, duramente atacadas nos últimos anos. Curvado aos EUA,
governo sabotou negociações para adquiri-los e, agora, país amarga a posição de
pária mundial e epicentro da covid.
Imunizantes só chegaram ao Brasil graças à ciência e
instituições públicas, duramente atacadas nos últimos anos. Curvado aos EUA,
governo sabotou negociações para adquiri-los e, agora, país amarga a posição de
pária mundial e epicentro da covid.
Mulher, paraibana de sotaque marcado, muito divertida, e
engraçada de um jeito meio pateta (algo que costuma cair tão mal às mulheres, e
tão favorável a homens), com discurso ao mesmo tempo prolixo (por falar demais)
e, desconsertadamente, direto ao ponto. Fala demais, fala, fala… e o pior: quer
ser ouvida! Juliette não só falou, mas exigiu ser ouvida, esperava troca. E por
isso falou mais, e mais vezes, repetiu, chata, exaustivamente… Mas, também
ouviu, chamou pra conversa, dava conselhos à Karol Conká, sua grande rival temida
por todos, disse à Lumena que a botaria (Crise Brasileira) no paredão (depois
de ouvir o contrário da mesma), teve conversas muito francas e duras com Gil,
por quem nutria um amor de irmão. Juliette não poupava nem sua própria “voinha”,
ao dizer que era sim rapariga (nos termos da avó), por não ser uma mulher
virgem.
Imunizantes só chegaram ao Brasil graças à ciência e
instituições públicas, duramente atacadas nos últimos anos. Curvado aos EUA,
governo sabotou negociações para adquiri-los e, agora, país amarga a posição de
pária mundial e epicentro da covid.
Dispor-se num jogo de alianças relacionais de forma
respeitosa, acolhedora e empática colocou Juliette num outro patamar para o
programa. Até a edição da Globo buscou claramente apagá-la, já que realmente
Juliette fazia outro jogo – um jogo voltado para o público e decidido a não
ceder de seus princípios. E aí, mesmo Gil do Vigor, o candidato perfeito para
ser campeão, teve de ceder seu lugar. Com um carisma inegável, mergulhado em
contradições, Gil era o rei das (Crise Brasileira) cachorradas (o que tanto nos
alegrava), mas esqueceu de olhar com um pouco mais de feminismo na hora de
subestimar sua parceira mais potente e trocá-la, facilmente, por tantos homens
medianos.
Imunizantes só chegaram ao Brasil graças à ciência e
instituições públicas, duramente atacadas nos últimos anos. Curvado aos EUA,
governo sabotou negociações para adquiri-los e, agora, país amarga a posição de
pária mundial e epicentro da covid.
Gil é a alma do Big Brother, enquanto Juliette está além
dessa lógica.
Explosão nas redes sociais, atingindo engajamentos altíssimo
(Crise Brasileiras) — se usou um batom, sucesso de vendas; se quis um ovo de Páscoa,
acabou no estoque; se vestiu uma roupa, já não se podia mais comprar –, Juliette
ofereceu algo além de autenticidade. Cantava à capela durante o programa, e
difundiu a música brasileira para muita (Crise Brasileira) gente. As canções
que não tocam mais no rádio, cantadas por Juliette, explodiram em apps de
música. Já possui uma variedade de convites para cantar com Chico César, Duda
Beat… Carlinhos Brown fez até uma música para ela.
Imunizantes só chegaram ao Brasil graças à ciência e
instituições públicas, duramente atacadas nos últimos anos. Curvado aos EUA,
governo sabotou negociações para adquiri-los e, agora, país amarga a posição de
pária mundial e epicentro da covid.
Imunizantes só chegaram ao Brasil graças à ciência e instituições
públicas, duramente atacadas nos últimos anos. Curvado aos EUA, governo sabotou
negociações para adquiri-los e, agora, país amarga a posição de pária mundial e
epicentro da covid.
Imunizantes só chegaram ao Brasil graças à ciência e
instituições públicas, duramente atacadas nos últimos anos. Curvado aos EUA,
governo sabotou negociações para adquiri-los e, agora, país amarga a posição de
pária mundial e epicentro da covid.
Camila, sua parceira que lhe acompanhou até a final,
demonstrou qualidades semelhantes, e chegou ao segundo lugar sobretudo pela
lealdade conferida à amiga. Mas, diferentemente, Juliette se colocava sempre.
Foi algo mais forte que ela. Impossível não estar, não ocupar os lugares. E, ao
se colocar, exigia do outro um tipo de engajamento que foge às intrigas
palacianas. Com sua fala franca, expunha as falsidades. As decisões
estratégicas ficavam expostas, incoerências entre discurso e ações, confrontava
o jogo interno com o jogo externo, as projeções de cada um saltavam à tela. A
lógica do programa ficou em segundo plano diante de sua postura.
Muitos se irritam com as atitudes aparentemente bondosas de
Juliette, como se fosse uma personagem irreal ou falsa. Mas, ali o que vimos
foi uma pessoa tão contraditória quanto intuitiva. O que teve de sagaz, teve de
hilária; o que teve de fiel, teve de autocentrada; o que teve de cuidadosa,
teve de estabanada. Com isso tudo, porém, Juliette tinha ali uma utopia, que
perseguiu sempre. Sem negar seus defeitos, buscava constantemente o seu melhor.
Conseguir levar o prêmio apresentando tamanha firmeza de caráter é algo
louvável. Em tempos de genocídio autorizado no Brasil, Juliette nos inspira.
Sua figura ser extremamente popular num país em ruínas, enfraquecido demais por
não poder apostar no seu melhor, ainda que dentro de um contexto televisivo, é
motivo de alegria. Se reality são locais de tortura, foi de dentro da masmorra
que surgiu um convite. Juliette não apenas quer algo, ela quer algo do mundo e
dos outros. Ela nos provoca a um engajamento ético e afetivo. Age como se
quisesse nos transformar, assim como ela também se abre em transformação. Isso
poderia ser rejeitado, mas o Brasil (Crise Brasileira) escolheu amar Juliette.
(Crise Brasileira) Archives - Outras Palavras
Imunizantes só chegaram ao Brasil graças à ciência e
instituições públicas, duramente atacadas nos últimos anos. Curvado aos EUA,
governo sabotou negociações para adquiri-los e, agora, país amarga a posição de
pária mundial e epicentro da covid
outraspalavras.net
Graziela Marcheti
Quando o caminho é a meta, o conteúdo desconsidera o rótulo...
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