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Neoliberalismo e pobreza na Argentina de Macri


Escrito por  Tulio Ribeiro
 A recolonização do século XXI precisa ser vencida sob muitos aspectos a Argentina é uma nação que desperta uma admiração em nosso continente. Muito especialmente pela forma que construiu uma sociedade baseada na educação e um alicerce de qualidade de vida. O período recente do social-desenvolvimentismo na nação ocorreu nos anos Kirchner, entre 2003-2015.
Em 2015 quando Cristina Kirchner finalizava seu governo, a Argentina era o país com maior desenvolvimento humano da América Latina. O país tinha passado da 49ª para a 40ª colocação na nova edição do Relatório sobre Desenvolvimento Humano da ONU publicada em 15 de dezembro daquele ano.
Junto com o Chile (42ª), a Argentina fazia parte de um grupo de países com desenvolvimento “muito alto”. A lista era encabeçada pela Noruega, Austrália, Suíça, Dinamarca e Países Baixos. O índice de desenvolvimento humano (IDH) é uma média entre a esperança de vida, o número de anos de educação e a renda per capita. Para a Argentina, esse número era 0,836 (sobre uma escala de 0 a 1; quanto mais se aproxima de 1, maior é o nível de desenvolvimento humano).
Argentina melhorava em todos os aspectos de seu IDH naquele período.
O país subiu seu IDH em 23,8% a partir de 1980. O país vinha avançando progressivamente todos os anos, até que deu um grande “salto” da 49ª para a 40ª colocação.
A esperança de vida ao nascer chegava a 76,3; tinha ascendido 6,8 anos de 1980 até final do governo CFK. A média de anos de educação da população era 9,8 e a “esperança de escolaridade” de uma criança ao nascer é de 17,9 anos, pulo positivo de 6,6 anos a partir de 1980.
A renda bruta per capita da Argentina estava no patamar de US$ 22.049, medida em valores constantes por paridade de poder aquisitivo, aumentado na ordem de 54,5% desde de 1980.
A chegada de Mauricio Macri e seu projeto de extremo liberalismo não tinha mérito algum, sem lastro para gerar desenvolvimento, levou o país a 47,6% de inflação , o dólar de 9,5 para para 48 pesos .O reflexo devastador levou a destruição da condição de vida da população, com a privatização das empresas, dolarização das tarifas com avilamento da renda e livre remessa cambial. A Argentina chegou ao ‘default técnico’ e voltou aos anos de 1995 hipotecando sua soberania ao FMI. O IDH perdeu 7 posições(49) aos O,825.
Na medida que se confronta a realidade de hoje, um em cada três argentinos vive abaixo da linha da pobreza (32% da população) e a maioria come apenas uma vez por dia.
É difícil encaminhar qualquer entendimento que não se reporte ao efeito avassalador para um país que no meio do século passado foi considerado o celeiro do mundo, e uma das economias mais dinâmicas. Neste momento segundo um relatório do Instituto Nacional de Estatísticas e Censos da Argentina (INDEC), mesmo com apoio do sistema financeiro internacional, mostra que o país tem a segunda inflação do continente, perdendo pra Venezuela que sofre uma guerra econômica.
Os reflexos dos anos Macri é inquietante, segundo a Pontifícia Universidade Católica da Argentina , no final de 2018, pelo menos 3,4 milhões de pessoas estavam sofrendo de insegurança alimentar. Um em cada três argentinos é pobre devido à crise econômica. Sim, a Argentina tem fome! Declarou assim um argentino registrado pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância:
Criança argentina bebe água de uma poça
“Nós adultos jantamos mate cozidos. Se houver comida,que seja para as crianças”
A burocracia quando trata demoradamente as demandas dos mais necessitados e a facilita para o grande capital, é uma das causas da pobreza. Além disso a dolarização das tarifas para garantir rentabilidade aos estrangeiros, fez o preço do gás subir mais de 1.000% nos últimos três anos, e os alimentos, transporte e gasolina continuam a aumentar.
O primeiro episódio de recessão ocorreu em 1975, antes do golpe militar, e a economia permaneceu instável até os anos 90, quando apresentou recuperação. No entanto, o endividamento foi crescente e estourou em dezembro de 2001 com o chamado ‘cacerolazo’, uma revolta popular motivada por superendividamento, falta de liquidez e fuga de capital.
Foi quando entrou em cena o Fundo Monetário Internacional (FMI), que, na opinião de alguns analistas, ao invés de mitigar o déficit, acabou aumentando a dívida externa.
A instabilidade e fluxo negativo de dólares , oriundas por remessas ilegais feita pelo empresariado, mantém um sentido de desconfiança dos argentinos em relação à moeda nacional, que sofreu uma desvalorização constante nos últimos 40 anos e acabou posicionando o dólar como a melhor alternativa para as finanças locais.
A administração neoliberal mesmo mantendo uma taxa de dolarização de 70% (uma das mais altas da região), não salvou o país. Em verdade a destruição das empresas nacionais impede uma produção suficiente em dólares para sustentar o que consome. Diante da estagnação, Macri governa se endividando, emitindo moeda e títulos, destruindo a renda da sociedade argentina. Atualmente a dívida, do estado de Buenos Aires de gestão macrista , está em 70% da receite e com 80% dolarizado.
O desgoverno de Macri, mesmo com apoio internacional, em muito supera a crise no segundo período de Cristina, em 2011. A economia tinha estagnado novamente, porque com crescimento dos gastos públicos em relação às receitas, o nível de consumo evoluindo com uma política expansiva, elevou os níveis que recriaram a falta de dólares. O sistema financeiro procurou atingir o governo desenvolvimentista de Cristina Kirchner, percebendo esta âncora de escassez cambial.
A saída dos capitais que financiaram o país, inclusive da família do presidente, permitiu uma desvalorização da moeda uma troca de patamar de 20 para mais de 48. O aumento de preços resultou em uma nova recessão que forçou Macri a exigir o retorno do “odiado” FMI, com um valor de ajuda de 56 bilhões de dólares, sendo que 38.9 foram desembolsados apenas para pagar as empresas estrangeiras.
São resultantes da gestão de Macri , 5,5 milhões de pessoas vivendo abaixo da linha da pobreza onde 42% são crianças ou adolescentes. Uma pobreza que já era alta em 2017 de 28,6%, agora chega aos 32%. Uma indigência que era insustentável em 2017 ,com 6,2% e agora atormenta diariamente 6,7 % da população. E por fim um salário mínimo em torno de 280 dólares, para uma necessidade de 620 (Unicef, Indec, AFP).
Por enquanto, Macri tenta suportar os protestos que começaram em janeiro e estão ficando maiores. O pedido dos argentinos é claro: mudança na política, economia e declarar a emergência alimentar. Cristina Kirchner vence em todas pesquisas para eleição de outubro (2019) um Macri sustentado pelos rentistas, e assim como ele, com fortunas escondidas no Panamá.
Diante do forte contraste entre o desenvolvimentismo e a recessão, os argentinos mais uma vez aclaram ao continente o que tem de melhor em sua postura. A coragem de não desistir, de tomar as ruas ecoando cânticos que a ‘Casa Rosada’ não pode deixar de ouvir. São sindicalistas, movimentos sociais e estudantes, que mais uma vez nesta semana, enfrentaram um projeto que ao eleger o neoliberalismo, condena a população a pobreza, hipotecando o futuro ao FMI. A recolonização do século XXI precisa ser vencida, e assim a Argentina volte a nos encantar.

Túlio Ribeiro é graduado em Ciências econômicas pela UFBA,pós graduado em História Contemporânea pela IUPERJ,Mestre em História Social pela USS-RJ e doutorando em ¨Ciências para Desarrollo Estrategico¨ pela UBV de Caracas -Venezuela

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