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Conceito Iorubá sobre Atúnwà




A ilusão de preponderância consciente faz-me acreditar que sou eu quem vive. Porém, se esta ilusão for abalada pelo reconhecimento do fator inconsciente, este último então aparece como algo objetivo, no qual o Eu está incluso; tal atitude se assemelha ao conceito atúnwà, africano, de etnia Iorubá, que considera o nascimento do filho a garantia da sua própria vida; sentimento em que muitas vezes se reveste grotescamente ao se ouvir um velho negro indignado com a desobediência do filho, exclamar: “Aí está ele, com meu corpo, e nem se quer me obedece”!

Vejo aí uma grande semelhança com o cristianismo primitivo de Paulo de Tarso, que expressa o seu sentimento interno ao testemunhar: “Não sou eu mais quem vive, mas é Cristo que vive em mim”. O símbolo “Cristo”, como “Filho do Homem”, é uma experiência psíquica análoga à de um ser espiritual iluminado que nasce do indivíduo, que vos servirá de morada futura. Na expressão de Paulo, esse corpo cobre-nos como uma veste (“vós que vos revestirdes de Cristo”). Lembro-me da parábola do “Banquete Nupcial”, onde só quem tivesse sido escolhido, e recebido do dono da festa uma veste de núpcias, poderia entrar como convidado. É uma “substituição”, não uma “destituição”. Agora, o rumo dos assuntos da vida cotidiana se deslocou em direção a um lugar central invisível.

Aqui cabe o pensamento do admirável filósofo Friedrich Nietzsche, “livre na mais amorosa das prisões”. É a livre dependência e calma aceitação. Esse desprendimento do ego, graças ao qual o “eu vivo” subjetivo se transforma no objetivo “sou vivido”.

Este sentimento de libertação, tão pleno em Paulo, é a consciência de sua filiação divina, que o liberta do encadeamento do sangue, se reconciliando com tudo o que acontece, pois doravante o caminho é que é a meta. Segundo o iluminado mestre chinês Hui Ming Ging, “o olhar daquele que atinge a realização plena se volta para o esplendor da natureza, - iluminando-se.

J. Alfredo Bião



Comentários

  1. Companheiro: Nestes tempos sombrios, vem bem a calhar este teu belo texto: instigador, poético, profundo. Parabéns!!!
    Cordial abraço!!!!

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