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A eleição COVID dos EUA


Muitos eleitores estadunidenses estão começando a emitir seus votos para presidente por correio ao invés de arriscar a ida até os locais de votação durante a pandemia. E enquanto o presidente Donald Trump está tentando descreditar a votação pelo correio, a estratégia do medo de sua campanha parece estar alienando mais e mais eleitores

27/09/2020 13:46

(Ethan Miller/Getty Images)

Créditos da foto: (Ethan Miller/Getty Images)

 
WASHINGTON – A pandemia que o presidente dos EUA Donald Trump lidou tão desastrosamente – mais de 200.000 mortes por covid-19 são esperadas no país até o dia da eleição – está persuadindo um número sem precedentes de eleitores a emitirem seus votos por correio ao invés de se exporem indo até o local de votação. Isso significa que Trump ou seu desafiador Democrata, Joe Biden, podem “ganhar” um estado em 3 de novembro e ver o resultado mudar quando todas as correspondências forem contadas. A probabilidade de resultados contestados, particularmente se um Trump enraivecido não conquistar a vitória claramente – pode transformar uma das eleições mais importantes da história do país em uma das mais caóticas.

Não surpreendentemente, Trump está contribuindo com o clima fervoroso de incerteza ao deliberadamente enfraquecer a confiança no voto por correspondência. Ele tem regularmente previsto que a eleição será “manipulada” – isso se ele perder. Ainda assim, quase não há registros de votos roubados como resultado da votação por correspondência.

A eleição está acontecendo em meio a condições tão desafiadoras quanto quaisquer outras fora de períodos de guerra: a pandemia, o colapso consequente da economia dos EUA, e a perda de 22 milhões de empregos até agora, com poucas razões para otimismo de que a maioria vai voltar. Os incêndios históricos submergindo a Costa Oeste se somam à atmosfera de ansiedade agitada. As grandes manifestações contra a brutalidade policial com afro-americanos já foram vistas como vantagens aos Democratas. Agora que as manifestações frequentemente evoluem para a violência, elas ameaçam trabalhar em favor de Trump.

De fato, Kellyanne Conway, então conselheira presidencial, disse em alto e bom tom que a violência é boa para Trump. Até agora, no entanto, sua tentativa de montar uma campanha de “lei e ordem” parece ter caído por terra.

Essa eleição está sendo disputada principalmente acerca do que ambos os lados não querem que ela seja sobre. Os Democratas querem que a votação seja um referendo sobre Trump – problemas substanciais, mas também a conduta de Trump e a corrupção desenfreada da sua administração. Os Republicanos, é claro, querem que Biden seja o foco e querem rotular o ex-vice-presidente como marionete da esquerda do seu partido.

A estratégia recente de Trump tem sido assustar mulheres do subúrbio – um grupo que ele tem que conquistar – com denúncias racistas sobre o apoio Democrata às moradias populares, implicando que Biden levaria o crime e a violência aos seus bairros. Até agora, essa jogada também não atraiu muita atenção. Tampouco funcionou a tentativa de convencer os eleitores que permanecem não comprometidos (que não são muitos) de que Biden, um antigo político moderado, estará nas mãos da esquerda.

O quão efetivo seria um presidente Biden vai depender fortemente se os Democratas, que já controlam a Câmara, poderão tomar o Senado também. Para isso, eles precisam de um ganho de três cadeiras. Com Biden liderando nas pesquisas nacionais de opinião e com fortes candidatos ao Senado, uma tomada Democrata parece sim possível.

Os Democratas vêm promovendo Biden como o homem decente e normal que ele é – alguém que, diferentemente de Trump, não incita a animosidade racial e tenta dividir o país. Tendo enfrentado tragédias familiares devastadoras, Biden aparece em acentuado contraste com o nada empático Trump, e os Democratas estão usando isso efetivamente.

A escolha de Biden para ter a Senadora Kamala Harris – filha de mãe indiana e pai jamaicano – como sua companheira de chapa foi popular dentro do partido. Suas crenças principais ainda são desconhecidas, mas ao escolher Harris, Biden cumpriu com uma promessa que fez na primavera, quando sua candidatura estava com problemas, de escolher uma mulher como sua vice-presidente. A época exigiu que ele selecionasse uma pessoa de cor, e o partido está contando com ela para trazer energia.

De acordo com pesquisas supostamente mais confiáveis do que as que existiam quatro anos atrás, Biden está liderando em estados decisivos suficientes para ganhar os 270 votos do Colégio Eleitoral que o vitorioso precisa. Mas muitos Democratas continuam traumatizados pela vitória de Trump do Colégio Eleitoral em 2016, quando margens muito pequenas em três estados – Michigan, Wisconsin e Pennsylvania – os colocaram no topo, mesmo perdendo no voto popular com uma margem ampla. A liderança de Biden em diversos estados decisivos é estreita, então os temores dos Democratas permanecem altos, o que pode justificar a decisão de Michael Bloomberg de prometer $100 milhões de dólares para ajudar Biden a ganhar a batalha no estado da Flórida.

Para além das pesquisas sobre estados decisivos, Trump não tem sido ajudado por uma pilha de livros recém publicados que falam mal sobre ele, ou por um artigo na The Atlantic alegando que Trump – que evitou ser convocado durante a Guerra do Vietnã ao conseguir cinco adiamentos (quatro pela faculdade, um médico) – descreveu as pessoas que serviram no exército como “perdedoras” e “babacas”. Falar mal de pessoas que ofereceram sua vida pelo seu país não é algo inteligente nem popular de se fazer nos EUA.

É claro, em 2016 Trump se safou ao desprezar John McCain, ex-prisioneiro de guerra torturado e os pais de uma soldada muçulmana-americana morta em combate. Ele deve estar confuso com a importância atual dada aos seus recentes insultos.

Trump também cometeu o erro de pensar que conseguiria encantar Bob Woodward para descrever sua sombria presidência como um triunfo. Ao invés, o novo livro de Woodward revela que Trump sabia desde o início o quão perigosa era a covid-19 e, mesmo assim, descartou os riscos publicamente. Ainda assim, Trump nunca muda; sua autopiedade é quase igual a sua grandiosidade. Enquanto o escândalo com a bomba de Woodward era construído, ele novamente sugeriu que ele merece não somente ganhar essa eleição, como também merece um terceiro mandato (inconstitucional), por causa do jeito como tem sido tratado.

Agora, com a pandemia pronta para coincidir com a época de gripes, a covid-19 se tornará uma ameaça ainda maior. Trump ainda não parece entender que ele não pode colocar o vírus para hibernar se os restaurantes reabrirem, se os alunos voltarem as escolas, e se esportes profissionais ou universitários forem jogados. E a determinação de Trump de poder anunciar o desenvolvimento de uma vacina até o Dia da Eleição é tão óbvia que qualquer vacina aprovada até lá será suspeita.

Em seu desespero para evitar ser o 11º presidente (de 45) a ser derrotado após um único mandato, Trump continua sendo seu próprio maior empecilho político. Ele simplesmente fala demais. Se ele perder em novembro, ele só poderá culpar a si mesmo.

*Publicado originalmente em 'Project Syndicate' | Tradução de Isabela Palhares

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